Capítulo XVII
DIAS
DE NOSSAS VIDAS
“Ufa! Que
dia louco eu tive ontem! Parece que vivi 17 anos em 24 horas... que loucura!”
“Estou
com uma dor de cabeça incrível. E eu nem tomei muito champagne... ou bebi e nem
percebi, no meio de tanta empolgação?”
“O que
vou fazer hoje? O dia está lindo, tão alegre... nunca havia reparado que o mundo
podia ser um lugar bonito de se viver!”
“Minha
mãe, como sempre, não está. Ela sempre sai para trabalhar à noite e só volta de
manhã. Mas já são 11 hrs da manhã e ela não está aqui. Deve estar fazendo hora
extra... como sempre.”
“Ah, como
eu queria ter uma mãe normal... que se preocupasse comigo, que conversasse
comigo, que me ajudasse com essa bagunça. Queria tanto contar a ela tudo o que aconteceu comigo ontem,
compartilhar toda a minha alegria, fazê-la saber que estou vivendo... mas sei
que ela nem vai se importar. Sinto falta da minha avó...”
“Por
falar nisso... acho que vou até o cemitério. Fica tão perto de casa. E já não o
vejo como um local triste, e sim como um portal de comunicação direto com a
minha vó. E, é claro, foi lá onde tudo começou entre eu e o Leandro”
*alguns minutos depois...*
“Cheguei
ao cemitério e, como sempre, ele estava vazio. Os vivos se acham ocupados
demais para se preocuparem com seus entes queridos que já partiram dessa pra
melhor... mas, ué? O que a minha mãe está fazendo aqui?!”
Mayra: Mãe?
Mãe da Mayra (Mariana): Filha? O que... o
que está fazendo aqui?
Mayra: Ué, você sabe que eu sempre venho
aqui. Ei, porque está chorando?
“Ela
enxugou as lágrimas, como se quisesse esconder seus sentimentos - eu eu sei o
quanto isso é impossível de ser feito! Olhou em meus
olhos e finalmente me respondeu:”
Mariana: Ah, Mayra... não se lembra? Hoje
faz quatro anos que sua avó se foi.
Mayra: É mesmo?!?! Nossa... perdi a noção
do tempo esses últimos dias. Ah, então foi por isso que... *então foi por
isso que eu a vi ontem! Eu sempre a vejo perto de datas especiais... como meu
aniversário, da minha mãe, do meu pai, o aniversário de morte do meu avô... e
claro, o aniversário de morte DELA!”
Mariana: ... que a viu?
Mayra: É... mas eu sei que você não
acredita em nada disso e que sua filha é uma doida varrida!
Mariana: Eu também a vi.
Mayra: Quê?!?
Mariana: Sabe, Mayra, quando cheguei em
casa hoje de madrugada e vi a bagunça que você fez, eu fiquei muito brava. A
caixa de pizza jogada no chão juntando moscas, as cinzas de fogos, o rádio
ligado, uma garrafa e vários copos de champagne espalhados na cozinha.
Mayra: Errrr... foi mal, mãe.
Mariana: Mas antes de te acordar pra te
dar bronca, acredite ou não, sua avó apareceu na minha frente... pela primeira
vez! À princípio achei que estava delirando, mas não podia ser, era ela! E ela
veio me dizer que você está vivendo a melhor época de sua vida e que eu não
tinha o direito de estragar isso. Ela disse que eu deveria prestar mais atenção
em você e que jamais me perdoaria pelo o que eu estava fazendo com a neta
favorita dela.
Mayra: Uau...
Mariana: E eu pensei sobre isso, filha.
Ela está certa! Desde que me separei de seu pai, há 12 anos, eu só te faço o
mal, só pensei em mim mesma o tempo inteiro. Nunca parei pra te escutar, nem pra
compartilhar tudo o que está acontecendo com você. Sempre te tratei com
desprezo, parecia que eu queria descontar toda minha frustração em você. E isso
não é justo! Ano que vem você vai para a faculdade e vou ficar sozinha, sem a
minha única filhinha! Se eu pudesse voltar no tempo... te daria uma infância e
adolescência felizes...
Mayra: Poxa, mãe...
Mariana: Sei que é duro escutar isso
tudo. Mas já tinha passado da hora de eu acordar pra vida e deixar de pensar em
mim mesma. Você não faz idéia do quanto sua avó abriu meus olhos. Você me
perdoa, Mayra?
Mayra: Claro, mãe...
Mariana: Que bom, filha. É um alívio. Se
arrependimento matasse, eu já estaria morta e enterrada... eu sinto muito,
filha. Por tudo o que você passou nessa vida. Você é o meu bem mais precioso
desse mundo!
“E
ficamos ali, abraçadas, olhando para o túmulo da vovó. Eu mal podia acreditar
que ela havia dito aquele monte de coisas pra mim! Tudo o que não conversamos a
vida inteira, falamos naqueles minutos. E foi uma conversa de mãe e filha...
algo que nunca havia experimentado minha vida toda”
“Para
fazer com que ela se sentisse melhor e menos arrependida, contei a ela tudo o
que aconteceu comigo ontem. Desde o Leandro até a música no rádio. Do jeito que
uma filha contaria a uma mãe...”
Mariana: Filha, que lindo! O Leandro deve
ser um rapaz maravilhoso. Pois eu quero conhecê-lo o mais rápido possível.
Mayra: Não se preocupe, mãe!
Oportunidades não faltarão!
“E
ali estávamos, unidas, finalmente. Como mãe e filha... e neta.”
Não perca o
próximo capítulo de Déjà Vu! \o/